quarta-feira, 18 de maio de 2011

"Certificar a ignorância" não é expressão para me escandalizar assim tanto

Não posso fugir ao assunto do momento. A polémica, lançada por Passos Coelho, em torno do programa Novas Oportunidades. Vou ser mais breve do que gostaria, comprometendo-me a terminar o texto antes de começar a espumar de raiva, que este tema é coisa para me acordar o sistema nervoso à séria.

Ora bem, eu acho muitíssimo bem que as pessoas que, por qualquer motivo, não puderam prosseguir os estudos na altura devida o possam fazer mais tarde. Até porque penso que o direito à educação e à formação deve assistir a todos. Agora - não me lixem! - não posso nem nunca irei concordar com o facilitismo que geralmente está implícito nesses programas (e que, ao que me parece, foi o que o PC criticou, e não o programa em si). Porque é muito bonito aumentar substancialmente o número de pessoas com mais habilitações, é sim senhora, mas desde que mereçam os diplomas. Passar-se certificados e diplomas em troca de um dossiê ou de uma espécie de biografia é, obviamente, gozar com a cara de quem - para ter uma licenciatura - estudou 16 anos consecutivos. Não é concebível para mim e é do mais injusto que pode haver.

Estive a ver o Opinião Pública, na SIC Notícias, em que esta manhã se abordava o assunto. Entre pessoas que frequentam o programa (e que, obviamente, negaram que haja facilitismo), ligaram várias pessoas que trabalharam em Centros Novas Oportunidades ou que têm familiares que também usufruíram do programa e só vieram reforçar a minha revolta perante o mesmo, ao confirmarem que existe, de facto, um grande facilitismo, descarado até. Desde composições que acabam por ser feitas pelos professores a composições retiradas da Internet. É ou não é bonito? É lindo! Na verdade, essas pessoas é que são inteligentes. Deixa-se de estudar e uns anos mais tarde tira-se um diploma ali em cinco meses fazendo um texto onde se conta como tem corrido a vidinha (fala-se do casamento, dos filhos, das férias em Freixo de Espada à Cinta, da morte do periquito, da prima que leva sovas do marido e por aí adiante). De facto, é tentador.
O chato é que essas pessoas ficam com o certificado mas não adquirem realmente conhecimentos, o que, além de não ser vantajoso para elas, é péssimo para o mercado de trabalho (onde estas pessoas passam a ficar lado a lado com aquelas que fizeram o "percurso normal" e estudaram pelo menos 12 anos para conseguir o 12º ano de escolaridade). Certificar milhares de pessoas só para embelezar as estatísticas não me parece uma boa opção. Mas isto sou eu...

Ainda relativamente ao Opinião Pública desta manhã, achei particular graça a um jovem que frequenta o afamado programa e que gritou, quase indignado, "ainda ontem estive até às 3 da manhã a matar a cabeça a estudar! Pois, porque nós ali temos que estudar porque fazemos testes". Errr... E pergunto eu, mas não é suposto ter que se estudar? Qual é o espanto? Ao longo de toda a minha vida académica também tive que estudar, que ninguém o fez por mim. E então? Se logo à partida os próprios alunos do NO acham estranho o facto de ali ter que se estudar, é porque algo não está bem... E sim, fazem alguns testes mas, ao que se sabe, até aí há facilitismo.
Acredito (ou quero acreditar...) que não será assim na totalidade dos CNO, certamente há professores que exigem aos alunos do NO o mesmo que exigiriam a alunos do ensino regular (verdade?). 

Também podia falar do acesso ao Ensino Superior para maiores de 23, que é outro que tal, mas fica para outra ocasião. Concordo com oportunidades iguais para todos - volto a frisar - mas têm que ser isso mesmo... Iguais. E não como acontece em Portugal, onde aparentemente quem faz o percurso regular é que sai prejudicado.   

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