quarta-feira, 16 de março de 2011

Quando me dá para aqui é um problema

Visto que cada vez mais pessoas têm vindo a deixar clara a sua opinião em relação à chamada "Geração à Rasca", onde eu acabo por me inserir também, é chegado o momento de responder a todos os que andam para aí a acusar-me (e a outros tantos) de não ter trabalho por vontade própria.

Primeiro ponto: não entendo qual é a necessidade de ofender ou promover choques de gerações tendo por base uma crise que, com mais ou menos intensidade, acaba por tocar a todos. E esse argumento do "ah e tal porque as gerações dos nossos pais e dos nossos avós é que andaram à rasca muito tempo" não me convence. É óbvio que em todas as gerações há dificuldades (e para perceber isso não é preciso ser um grande estudioso). As gerações anteriores também travaram as suas lutas e merecem todo o mérito por isso. Mas então porque é que nós não podemos reclamar daquilo que, aos nossos olhos, está menos bem nos dias de hoje? Os nossos ascendentes não lutaram pela liberdade de expressão e pela democracia? Óptimo - obrigada a todos, é graças a vocês que eu hoje posso escrever este texto - mas agora deixem-nos lutar por algo a que também temos direito... Um trabalho e, já agora, que seja condignamente pago.
E para quem diz que os mais velhos não se queixavam, aqui vai uma novidade: claro que se queixavam, a insatisfação é inata ao ser humano, vamos sempre querer mais ou melhor do que temos. A diferença é que, no tempo dos nossos pais e avós, não havia possibilidade – ou sequer ferramentas - para mostrar publicamente o descontentamento. Estamos esclarecidos?

Segundo ponto: nas palavras dos críticos ferozes, que apontam o dedo àqueles que se queixam, é notório que falam do alto de um emprego - bom ou mau, pelo menos têm trabalho - e o desprezo com que olham para os jovens desempregados denota que, das duas uma… Ou nunca tiveram que lutar por nada ou são mesmo só más pessoas.

Mas também gosto muito que digam que nós apenas nos disfarçamos de vítimas, pois, na verdade, gostamos de estar dependentes dos pais para gastar a mesada em festivais e roupas de marca. Ora, deixa cá ver… Há anos que não vou a um concerto; desde que fiquei novamente desempregada – há cinco meses – que não compro uma peça de roupa – ah! esse grande luxo que é comprar uma peça de roupa! -; o meu carro só anda porque os meus pais subsidiam as idas ao outro lado da fronteira para abastecer, assim como generosamente carregam o meu telemóvel e pagam as propinas do mestrado. Realmente, quem é que não gosta de viver assim, dependente? Ai ai... Vá lá perceber-se esta juventude…

E também não gostamos de trabalhar, não é? Pois, haverá gente que se sente bem assim, não duvido. Eu não admito é que me falem numa generalidade que não existe e, acima de tudo, na qual eu não me insiro. Eu já trabalhei de borla, só pelo gosto no que fazia e por acreditar que nada é em vão; já tive trabalhos precários e fui deixando andar porque afinal “mais vale ter um mau do que não ter nada”; assim como fiz estágios curriculares sem me queixar e tal como, desde há três meses, me levanto da cama às 05h00, se necessário for, para acompanhar profissionais da minha área em serviço sem receber qualquer remuneração. Só para poder aprender um pouco mais e não me sentir tão inútil. Se isto é não querer trabalhar, eu não sei que dizer mais…

Dizem ainda os críticos dos mais novos que nós saímos todos os fins-de-semana e gastamos um balúrdio em bebedeiras, não é? Epá, eu gostava muito que isso fosse a minha vida, de facto. Se essas pessoas quiserem financiar as minhas saídas à noite, é com todo o gosto que passo a fazer isso. Podemos falar sobre isso um dia destes, está bem? E nem é preciso pagarem-me bebidas brancas, que eu cá contento-me com umas cervejinhas – olha lá, simpática que sou.

Terceiro e último ponto: as vossas críticas, que com muito apreço tenho lido, têm também um carácter cómico e, só por isso, já merecem uma salva de palmas, que eu sou uma pessoa que gosta muito de rir. Passo a explicar… Acho extraordinário que alguém me critique, dizendo que esta é uma geração de ignorantes, e o faça através de textos incoerentes e repletos de erros. Eu, graças aos meus paizinhos – que assim me fizeram – e a esta minha mania de usar o cérebro (raio de feitio!), pelo menos não assassino diariamente a língua materna. É que isto de escrever em espaços públicos não é bem o que parece. Convém, efectivamente, saber escrever. Não saber distinguir “há” de “à” ou escrever “pais” em vez de “país” é desculpável quando temos 5 anos. Se querem fazer boa figura com as vossas críticas, pelo menos façam-no em português correcto. Ignorantes, nós…? Está bem, abelha.

Por fim, gostava só que me tirassem umas dúvidas… É crime querer trabalhar na área para a qual estudámos? É crime querer permanecer e criar carreira onde nascemos, não acreditando - ainda - que a única solução será abandonar as raízes? É crime dizer publicamente que não estamos bem assim? Então se é, podem colocar-me as algemas, se fazem favor. Culpada me declaro.

3 comentários:

  1. em primeiro lugar nao acho que seja um blogue inutil, em segundo lugar cheguei aqui quando procurava bolas de berlim, engraçado
    kis :=)

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  2. Portanto, só por esse comentário já valeu a pena ter escrito o post das bolas de berlim =) É sempre bom saber que alguém me lê, mesmo que aqui chegue por engano (aliás, essa é mesmo a parte gira) Thanks!

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  3. a primeira foi por engano ma sa segunda foi de propósito a ver se havia algo mais escrito, mas nada de novo. volto amanha.
    BFSemana
    kis :=)

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