quinta-feira, 11 de março de 2010

Eu também gosto de Ucal

Ontem, estava eu na fila para a caixa de uma superfície comercial, e na minha frente estava um senhor que não tinha, certamente, menos de 70 anos. Ao ver-me carregada de iogurtes, cereais e pão (sim, eu sou daquelas que vai às compras e insiste em não levar cesto...), disse com um sorriso: "ó menina, pode pôr as coisas no tapete, isto dá para todos". Eu sorri de volta e lá coloquei as minhas compras. O senhor continuou: "não se preocupe que as compras não se misturam, eu só tenho isto". O 'isto' era uma embalagem de seis garrafas de Ucal. Voltei a sorrir. Eu também gosto de Ucal.

Ele vestia todo de preto, talvez seja viúvo (reparei na aliança). Deve gostar mesmo de Ucal e deve comprá-lo habitualmente ali, pois, na altura de pagar, já tinha preparado o valor certo. E tinha os olhos tristes, olhos azuis. Senti pena, mesmo sem saber nada da sua vida. Imaginei-o a viver sozinho, provavelmente com saudades da companheira de uma vida. Deve ter filhos e netos mas, como acontece em tantas outras famílias, cada um tem a sua vida e ele deve passar a maior parte do tempo sozinho.

Dei comigo a pensar... Num mundo em que, cada vez mais, as pessoas vivem só para si e praticamente nem se cumprimentam, aquelas frases e aquele sorriso souberam-me bem. O senhor não me conhecia de lado algum, nem eu a ele, e a atitude foi espontânea. Acho que estou tão habituada à antipatia geral que todos os dias vejo, que estranho quando alguém é simpático sem esperar nada em troca.

Já no parque de estacionamento, ainda avistei o senhor ao longe. Seguia pelo passeio dando passos calmos, sem pressa. Talvez porque a minha imaginação tenha tocado a realidade, e ele não tivesse mesmo ninguém em casa à sua espera...

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